Negócios
Embraer testa combustível verde; o que falta para ideia decolar na aviação?
Jatos executivos concluem voo com SAF, mas mercado ainda não está maduro.
AEmbraer(EMBR3) anunciou no último domingo (15) que concluiu os testes de voo com o Combustível Sustentável de Aviação(SAF, na sigla em inglês). Com isso, a empresa conquistou um pouco mais de altitude para atender às demandas do setor rumo ao status de “carbono neutro” até meados deste século.
Porém, a propulsão desse “combustível verde” precisa ganhar força para que a iniciativa decole, tornando-se comercialmente viável, sem ônus ao consumidor nem à eficiência das aeronaves. Para tanto, é necessário alcançar uma elevação mais distante do nível do mar, porém sem perder o equilíbrio nos negócios nem o compromisso com o impacto ambiental.

Talvez, por isso, chamou mais a atenção dos investidores os acordos comerciais fechados pela Embraer com outro país-membro da OTAN. Em um aceno aos produtos de defesa, a República Checa manifestou interesse pelo KC-390 da fabricante brasileira. Dias antes, a Luxair, companhia aérea de Luxemburgo, fez um pedido de compra de quatro jatos.
“É importante destacar que a empresa havia mencionado sua expectativa de anunciar novos acordos tanto na divisão comercial quanto na de defesa & segurança e tem cumprido essa previsão com novos anúncios concretizados”
Eduardo Rahal e Chrystian Oliveira, da Levante.
De qualquer forma, a conclusão dos testes nas instalações da Embraer nos Estados Unidos com combustível 100% sustentável é “um passo significativo” para fazer uso do SAF puro, enfatizou o presidente e CEO da fabricante brasileira, Michael Amalfitano, em comunicado. Portanto, a experiência ainda é incipiente.
No texto, a empresa afirma que os voos foram bem-sucedidos e os testes feitos usando os jatos executivos Phenom 300E e Praetor 600 forneceram informações relevantes sobre o desempenho dos sistemas de um motor. Os resultados despertaram interesses do setor, à medida que operadores estão cada vez mais interessados no uso desse combustível.
Tecla SAP: o que é o SAF?
O Combustível Sustentável de Aviação (SAF), também conhecido como biojet ou BioQAV (“querosene verde”) é um biocombustível, que pode ser produzido a partir de óleos vegetais, como cana-de-açúcar, milho ou palma. Também pode ser extraído a partir de gorduras animais (como o sebo bovino) e até do óleo de cozinha usado.
Por ser produzido a partir de fontes renováveis, o SAF pode reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE), em especial de gás carbônico, entre 70% e 90% em comparação ao querosene de aviação (QAV), combustível tradicionalmente usado pelo setor. O grau de sustentabilidade e sua viabilidade depende, portanto, dos insumos utilizados e dos processos adotados, tornando sua implementação mais acessível e rápida.
Ainda assim, o uso de produtos de base biológica são essenciais para atingir os objetivos de desenvolvimento sustentável. “São produtos de origem natural, incluindo plantas e animais, em um estágio não processado ou de baixo processamento, ou quando utilizados como insumos ou derivados”, afirmou Denny Thame, pesquisadora de bioeconomia sustentável, em artigo recente.
Benefícios às empresas
Portanto, o “combustível verde” é tido como a principal alternativa para as companhias aéreas atingirem a meta com a qual se comprometeram a zerar as emissões líquidas de carbono até 2050. A Azul(AZUL4), por exemplo, aposta no SAF de etanol como um grande trunfo do Brasil, informou a Agência epbr.
Tanto que a expectativa da Atvos é de um salto na moagem de cana, diante da perspectiva de forte crescimento na produção de etanol nos próximos anos. Com o encerramento de seu processo de recuperação judicial após a entrada da Mubadala Capital como acionista de referência, a empresa de energia limpa também estuda entrar em outros biocombustíveis, como álcool de milho ebiometano, informou à Reuters.
Trata-se do biocombustível de cana e milho, que pode ser convertido a partir de um processo certificado a partir do álcool etanol. Aliás, a Raízen(RAIZ4) obteve recentemente a certificação do seu etanol para a produção deste tipo de SAF atendendo às regras de sustentabilidade.

Aliás, a Raízen, em parceria com a Embraer, avalia a possibilidade de tornar o SAF brasileiro de etanol competitivo, em termos de preços. Atualmente, o novo combustível custa entre três e cinco vezes mais que o querosene de aviação. Daí então o receio entre as principais companhias aéreas do mundo de que as metas de descarbonização não sejam atingidas em razão do alto preço e da escassez do SAF.
No entanto, seja qual for a matéria-prima a partir do qual é produzido, o SAF tem de ter o seu atributo de descarbonização reconhecido internacionalmente, permitindo que as empresas e os países possam usar o programa de compensação de carbono da aviação internacional a partir de 2027, chamado de Corsia.
Isso porque toda a cadeia produtiva dos produtos de base biológica deve equilibrar ganhos econômicos, sociais e ambientais – conhecidos pela sigla em inglês ESG. Assim, o desenvolvimento do “combustível verde” ainda depende de avanços em ciência e tecnologia, porém, as empresas brasileiras alinharam o plano de voo e estão na rota certa para trafegar em “velocidade de cruzeiro”.
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